Reflexões

O QUE QUEREMOS?

Havia um menino, ele precisava chegar ao seu destino, ele não sabia o que queria, apenas o que não queria. Caminhava por uma estrada paralela a um rio, de repente se viu a frente de uma bifurcação, aparentemente duas possibilidades de escolha para prosseguir, ou pelo menos era o que se apresentava a sua frente naquele momento.  E agora, qual escolher? Ele não sabia o que queria, portanto qualquer uma poderia ser boa para ele, mas como escolher? Talvez por exclusão, porque afinal ele não sabia o que queria, mas sabia o que não queria.

O caminho A era o mais curto, reto, linear, o trivial. O caminho B cheio de curvas, aparentemente com uma bela paisagem, mas com muitos segredos que poderiam atrapalhar o seu percurso e torna-se perigoso. Escolher o mais curto para aplacar sua ansiedade e chegar logo ao lugar e assim resolver todos seus problemas de uma vez, ou desfrutar da natureza e correr o risco de surpresas traiçoeiras?

Aquelas eram as duas possibilidades que ele conhecia, ou que achava conhecer. Mas e se ele fosse pelo rio, nadando, poderia se refrescar, ou melhor, se construísse um barco para seguir caminho? Seria possível? Se ele quisesse, sim, mas isso levaria mais tempo, daria mais trabalho, até cansaria pelo esforço dispensado a este serviço. O que ganharia com isso? Ele não sabe, porque não sabia o que queria, sabia apenas o que não queria.

E se ele fosse pelo céu, poderia ver do alto muito melhor os dois caminhos e se refrescaria pela brisa do vento, mas qual o problema dessa escolha? Dá medo alçar voo, tirar o pé do chão, medo do incerto, medo de cair.

Ele poderia escolher qualquer um desses e até outros mais, se assim quisesse, mas só vislumbrava dois deles, o caminho mais curto e o caminho tortuoso, que também não lhe garantiam certezas. Não importa o que ele escolheria, sofreria as consequências dessa opção, se ele quisesse qual fosse o caminho, só importaria a ele pois ali estava apenas ele diante da escolha que faria. O problema é que ele precisa saber que existem mais que dois caminhos.

Então a primeira coisa é saber que existe mais possibilidades.

  • Talvez ele quisesse chegar mais rápido, qual o problema?
  • Talvez ele quisesse aproveitar melhor o percurso apesar dos riscos, que mal haveria nisso?
  • Talvez ele quisesse se refrescar e fluir pelo rio, a quem deveria satisfação?
  • Talvez ele quisesse olhar as coisas por outro ângulo, que importa?

Mas o que ele quer? Ele não sabe, só sabe o que não quer, por isso resiste.

  • Ele não quer chegar mais rápido ou fazer as coisas correndo
  • Ele não quer se arriscar
  • Ele não quer se cansar nadando contra a corrente ou fazendo esforço para construir o barco
  • Ele não quer olhar as coisas de outra forma
  • Ele poderia até escolher voltar ou ficar ali parado, mas era isso que queria ou era o que apenas não queria?

Pode parecer obvio que ele saiba que existem outras formas de chegar ao que deseja, mas não é, ele foi ensinado que só pode escolher os extremos, o tudo ou nada, a luz ou a escuridão, o bem ou o mal, dia ou a noite, oito ou oitenta.  Ele também não acha que pode pegar um caminho e seguir por outro, que não existe certo ou errado, que os erros depois levam aos acertos. Não existe meio termo, não existe caminho do meio, só o absolutismo das coisas.

Ele acha que o caminho é sempre aquele que contradiz um outro caminho. Ele não sabe o que quer, mas acha que sabe o que os outros querem, e acha que quer o que todos querem, e faz os outros pensarem que querem algo que nem eles sabem o que querem. É assim que estamos vivendo, seguindo o fluxo do que nem sabemos querer, mas do que parece que queremos para todos. Quem te disse o que o outro quer? E quem te disse que o outro pode definir o que você deseja?

Esse é um texto autoral, mas que com certeza muitos se identificarão, por isso vou ampliar essa situação para o macro, no contexto de hoje da política, o que vivemos é uma expressão da individualidade das pessoas num todo. Dessa forma fica mais claro observar esse padrão.

Você acha que a maioria das pessoas estão se aliando para lutar por dois caminhos? Não exatamente, mas contra dois caminhos. Ou você é contra o “fascismo” ou contra o “comunismo”, ou tem medo que volte a “ditadura” ou que o Brasil vire a “Venezuela”.

Não estou aqui tomando partido, muito menos tentando excluir os direitos das pessoas, mas quem te disse que só temos essas possibilidades. Uma pesquisa Ibope? Mesmo quem questione se alguém já respondeu uma, acaba baseando suas decisões por estes dados.

Novamente é o externo guiando suas escolhas, e acabamos por repetir os padrões baseado no medo e não na vontade de testar o novo. O voto de fuga ou voto defensivo.

O que aconteceria se você decidisse que não quer o que é menos pior para sua vida, e escolhesse o que quer de verdade? Qual preço pagaria? Mas é preciso terceirizar a culpa, pois se esse ou aquele caminho não der certo, não fui eu quem escolhi, foi o outro quem escolheu por mim. Logo, vamos todos dividir a “culpa” com uma escolha coletiva.

Como conhecer os gostos dos outros se não conhecemos nem a nós mesmos. Se todos fossem individualistas em algumas escolhas, arriscando as consequências delas, respeitaria que a escolha do outro é do outro e que não precisamos resistir ou só reagir.

Individualismo, não é egoísmo. É prepotência achar que se defende pessoas hostilizando outras, ou que se está salvando alguém porque você fez uma escolha diferente, ou que alguém é burro por isso. É humildade assumir a culpa por suas escolhas e não pelas dos outros.

Estamos aqui novamente vivendo um segundo turno no primeiro. Se cada um escolhesse com o que se afiniza, se perguntasse o que quer realmente e se livrasse da influência externa, como uma pesquisa, por exemplo, poderia mudar seu próprio destino e talvez mudar o de muitas pessoas. O outro não é mais importante que você para que pense nele em primeiro lugar, ele é igual, e tão bom quanto.  Reconhecendo em você, e fazendo o melhor por você, estará fazendo por ele também. Somos responsáveis pela sociedade, mas somos responsáveis acima de tudo por nós mesmos. O que queremos não é a melhor pergunta. Mas o que eu quero afinal?

           Esse é só um texto reflexivo que parte daquilo que eu observo em mim. Eu não sou todo mundo, então você não precisa achar que esse artigo lhe representa, mas tente achar de fato o que te represente. Como esperar mudanças, fazendo sempre do mesmo jeito? Vamos quebrar padrões. Devemos levar isso para a vida, pois o tempo todo estamos não querendo algo ao invés de querer.

Texto de Jacqueline M Silva

Imagem internet 

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